sábado, 19 de dezembro de 2009

A nova paulistana

Mariana subiu a serra. Fez o caminho contrário de muitos durante as férias."Quero conhecer um viaduto"_ era o que dizia_ "Viaduto é a coisa mais linda!". E assim foi... juntou um dinheirinho aqui e outro lá _ " Eu faço bijuteria! Sou uma arista!".
Chegou na cidade grande e sentiu cheiro de fumaça. Pegou um metrô e se atrapalhou toda com aquela confusão_ "Será que o mundo inteiro resolveu vir comigo pra São Paulo?". Saiu do trêm, subiu escadas que a levavam ao topo sem esforço e deu de cara com a praça da Sé. "esse lugar cheira igualzinho `a fossa lá de casa".
Era fim de tarde. Comeu um cachorro-quente na rua_"hot o quê?!...". Olhou para o lado e viu que sua bolsa não estava mais com ela_" Filha-da-puta me levou tudo!". Saiu andando sem rumo.
Ao virar uma esquina escura deu de cara com uma turma que se divertia a beça fumando um tal de crack. Foi convidada a se juntar a eles_"Eu não conheço ninguém aqui mesmo...". Fumou, gostou_"Ainda tenho mais um trocado no bolso...", fumou de novo, ouviu sirene, todo mundo correu. Ela também. Cansou, parou, voltou a andar, deu de cara com o Minhocão_" é ainda mais lindo do que pensava!". Dormiu em baixo do que tinha ido para ver. Quando acordou alguém tinha deixado umas moedas ao seu lado_" Esse povo da cidade é muito gente boa!".
Subiu o viaduto gigante_ " Não passa carro aqui não seu moço?". Ele disse que era domingo.Viu vendedor de coco e churrasquinho. Meninos consertando bicicleta e gente jogando bola_" Isso é igual a praia!". Olhou pro lado e um cara de boina lhe ofereceu algo_ " brinco, bracelete? Isso eu sei fazer! Posso te ajudar moço". Ele precisava de dinheiro pra comprar material e ela poder ficar. Revistou os bolsos, não achou dinheiro mas ele aceitou a pedra esquecida ali na noite passada.
Os anos se passaram e eles agora moravam juntos de baixo do Minhocão. Fizeram amigos e tentaram não roubar ninguém. Se eram felizes, não sabiam dizer. O fato é que ela nunca mais pensou em descer a serra. Nem mesmo de férias.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Rumo

Um dia ela acordou e se viu assim, sem nada para fazer.
Resolveu procurar um amigo, um alguém especial que pudesse tirá-la daquele marasmo,
mas não havia um.
Rodou a casa, a procura de uma louça suja, um armário pra arrumar, talvez levar o lixo pra fora?
Mas nada encontrou.

Ficou sentada, esperando...
esperando o que?
Não sabia o que fazer...
Qual o proximo passo?

Tentou ler um livro, mas não conseguiu se concentrar.
Tentou ligar a TV, mas os programas de domingo não lhe faziam sentido.
Pensou em adotar um cachorro,
ou uma tartaruga...
mas não achava que seria uma solução...

Tentou meditar, dormir,
mas nada conseguia ocupar seus pensamentos.

Olhou novamente para o telefone,
estava funcionando, mas ninguém ligava...
Sem mensagens,
Sem correio,
Sem e-mail.

Pegou sua carteira,
olhou para sua identidade e não se reconheceu na foto.
Viu a tesoura em cima da mesa.
No canto da sala, uma mochila velha dos tempos de escola.
Teve uma ideia!
algo iluminou sua mente
aqueceu seu coração!

Pegou a tesoura,
picotou seus documentos e jogou no lixo.
Encheu a mochila de algumas coisas que talvez fossem necessárias
e saiu porta a fora.
Deixou a porta aberta.
Torceu para que alguém achasse sua casa e a tomasse para si.

Sabia que nunca mais voltaria...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

polish nails

Hoje tirei meu esmalte rosa.
Era uma cor linda,
rosa alaranjado...
da cor do verão.

Hoje eu tirei aquele acabamento ...
envernizado,
brilhante.

Mostrei minhas unhas.
Manchadas, esbranquiçadas, quebradiças...

Hoje eu cansei de retocar e esconder,
De lixar, transformar.

Hoje eu serei só unhas...

Afiadas e comidas.

Só chuva?!

Ontem a noite, olhava o céu estrelado que logo desabou em água e acabou com um sonho acalentado.
Como é simples que cultivemos os mais belos sentimentos, com força e esperança, e logo o mundo vem e com um simples sopro, uma simpes brisa, consegue nos levar tudo o que temos de mais precioso.
Fico pensando na lição que devemos tirar dos desalentos da vida. Mas se há algo bom no fundo de tudo isso, ele ainda me parece muito ruim.
Qual o proximo passo? quanto tempo mais irei perder para sempre acabar com um buraco ainda maior dentro de mim?
Não desista! Vá em frente! Coragem! E eu já estou querendo somente ver TV e esperar que algo caia do céu no meu sofá. Mas que dessa vez não seja somente água.